Cannes 2025

OCUPA TRANS VAI VOLTAR A CANNES

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Guilhermina de Paula

Depois de participar da edição do ano passado, o OcupaTrans, projeto que fomenta a acessibilidade e participação de pessoas transgênero em eventos e nos múltiplos espaços da indústria criativa brasileira, foi selecionado pela organização do Cannes Lions para estar representado na edição de 2025, que será realizada entre os dias 16 e 20 de junho, na França.

Escolhido pelo Programa ERA- Equidade, Representatividade e Acessibilidade do Cannes Lions, o OcupaTrans recebeu dez passes para o festival.

Com isso, o projeto inicia o processo de captação de apoios e patrocínios para financiar passagens, traslados, hospedagem e alimentação, para viabilizar a ida de profissionais de publicidade.

“Em 2024, tínhamos o sonho de levar pessoas trans para o maior evento de publicidade do mundo. Parecia impossível, mas com muito trabalho e apoio de parceiros incríveis, que acreditaram na nossa vontade genuína de mudar o mundo, conseguimos marcar a presença de cinco pessoas trans na França”, diz Guilhermina de Paula, fundadora do Projeto OcupaTrans.

“Neste ano, contemplados com ingressos para repetir a dose daquilo que um dia era impensáve, a meta se torna ainda mais ambiciosa, ou seja levar dez pessoas para o Cannes Lions”, completa.

Com quase dois anos de atuação, o OcupaTrans já viabilizou o ingresso de dezenas de seus participantes, pessoas trans, travestis e não-binárias no Festival do Clube de Criação e no Festival Whext, ambos realizados em São Paulo.

“Nosso principal objetivo é humanizar pessoas trans a partir da presença em cenários outros que não a velha marginalidade que precede nossos corpos no imaginário popular. Seguimos criando oportunidades e assegurando a presença, representatividade e pertencimento da comunidade Trans em espaços relevantes, renomados e reconhecidos por toda a indústria de comunicação publicitária”, afirma Guilhermina.

Não bastasse lutar pela sobrevivência, já que o Brasil segue, pelo 17º ano consecutivo, como o país que mais mata pessoas trans no mundo, outro grande desafio é a empregabilidade.

Segundo dados apurados pelo Projeto OcupaTrans a partir de informações publicadas pela mídia brasileira, no Brasil apenas 4% dos transgêneros têm carteira assinada.

Dados do censo de inclusão nas agências brasileiras de 2023 são ainda mais preocupantes.

“O ODP (Observatório de Diversidade da Publicidade) mostra que apenas 1% das pessoas trans e travestis têm emprego formal, e ainda não há pessoas trans e travestis em cargos de liderança”, revela a fundadora do OcupaTrans.

De acordo com Guilhermina, isso ocorre porque essa população muitas vezes é expulsa de casa ainda criança e, com isso, não tem acesso à educação e precisa recorrer à prostituição, pornografia e outros subempregos à margem da sociedade para sobreviver.

“Lutamos para mudar esse cenário e contamos com o apoio não apenas de empresas do mercado publicitário, mas de toda a comunidade. Conseguir levar mais uma vez integrantes do OcupaTrans ao Cannes Lions seria outra grande vitória nesse caminho”, finaliza.