Entrevista
A VOZ HISPÂNICA DOS ESTADOS UNIDOS
Publicado emEm 1975, Laurence Klinger participou da fundação do Clube de Criação de São Paulo. Treze anos depois, em 88, criou a divisão hispânica da Leo Burnett na sede mundial da agência, em Chicago. Em 99 fundou a Lápiz/Leo Burnett, a primeira agência multicultural dos EUA, com mais de 280 prêmios nos mais importantes festivais do mundo. No meio desse período, entre 92 e 98, comandou agências do W/Group de Washington Olivetto na mesma Chicago, além de Barcelona e Lisboa. Desde o final dos anos 90, a voz hispânica no mercado norte-americano só aumenta seu volume. Hoje, Klinger é presidente do Circulo Creativo Hispanic dos Estados Unidos, o primeiro brasileiro a ocupar o cargo. Na próxima semana ele integra o júri do Idea Awards, premiação que ocorre paralelamente ao Fiap, no Eden Roc Renaissance em Miami Beach.
Há mais de 25 anos nos Estados Unidos, você acompanha de perto a evolução desse surpreendente mercado consumidor hispânico. As verbas publicitárias investidas para atingir esse público cresce igualmente em projeção geométrica?
As verbas cresceram um pouco e há mais anunciantes do que nunca querendo uma fatia deste mercado. No entanto, as verbas não cresceram em progressão geométrica. Pelo contrário, são completamente aleatórias e desproporcionais à contribuição do mercado hispânico na economia. Há diferentes motivos para isso, desde falta de informação até preconceito.
Qual a diferença desse mercado entre a criação da divisão hispânica da Leo Burnett e a efetiva fundação da Lapiz, 11 anos depois?
Quando criei a divisão hispânica da Leo Burnett, a ideia era formar um departamento para cuidar das necessidades multiculturais dos clientes da Leo Burnett. A decisão foi acelerada por um pedido da Procter & Gamble, que apenas começava a se comunicar com o mercado hispânico. Hoje é um dos três maiores anunciantes multiculturais do país. Naquela época comecei a ver o que se fazia neste mercado e fiquei horrorizado com a baixa qualidade e o mau gosto do trabalho. Mas com o crescimento do poder aquisitivo hispânico, tudo foi mudando. A fundação da Lapiz como agência independente se deu no momento em que sentimos que o mercado havia finalmente amadurecido. Hoje, o maior impacto se vê na qualidade do trabalho das agências hispânicas, premiado em todo o mundo, e na estatura dos profissionais que hoje compõe esta comunidade publicitária.
Os brasileiros nos EUA estão agregados a esse público hispânico? Recebem o mesmo tipo de mensagens publicitárias?
A comunidade brasileira é relativamente pequena nos Estados Unidos, e está concentrada principalmente na costa leste do país. Embora seja muito comum para o brasileiro que vive aqui ter laços de amizade com pessoas de outros países da América Latina, pois com elas encontra afinidades em questão de preferência de conteúdo, a tendência é para os meios locais. Ou seja, por questões de idioma e cultura, creio que o brasileiro não se sente tão incluído na comunidade latina como outros povos da região.
Parece que as agências hispânicas são baseadas principalmente em Miami e Los Angeles. Como comandar um clube de criativos de Chicago?
Também há agências no Texas, Nova York e outras cidades. Esse é um fenômeno tipicamente americano, um país descentralizado. O Circulo Criativo é 100% virtual. Não temos sede e só nos reunimos uma vez por ano, durante os USH Idea Awards no mês de abril. Temos um website que funciona como ponto de encontro, e nos comunicamos por outros meios digitais.
O termo Latino não seria mais forte ou apropriado do que hispânico? Oficialmente não atrairia mais brasileiros e portugueses?
Você tem razão. Mas o americano ainda não entende muito bem a diferença e creio que os profissionais do Brasil e Portugal sabem que podem fazer um bom trabalho em qualquer mercado. De qualquer forma, muito em breve isso não vai fazer mais diferença. Estou convencido de que as agências hispânicas vão desaparecer. Ou melhor, vão se transformar nas agências americanas do futuro. E isto vai acontecer porque a nova geração de americanos é a mais multicultural que jamais existiu. Multicultural será o novo mercado geral. A Lapiz, por exemplo, já deixou de ser uma agência puramente hispânica. Hoje nos dedicamos às culturas emergentes, ou seja, uma segmentação baseada em comportamentos em vez de etnias. Quem vai ter trabalho para se adaptar a essa nova realidade serão as agências americanas. As hispânicas já estão um passo à frente.