Polêmica
UM NEGRO GATO, DE ARREPIAR
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Em 2013 a Volkswagen tirou do ar uma campanha que fazia uma analogia entre o gato preto e o azar. Agora é a vez da Shell, criticada em redes sociais por anúncio que remete ao mesmo tema.
A superstição relativa ao bichano surgiu na Idade Média, quando esse animal era associado à bruxaria e mau agouro. A Igreja ajudou a construir o mito combatendo o paganismo que idolatrava esse animal.
Segundo a história, o primeiro documento da instituição condenando os gatos de cor preta foi a bula papal Vox in Rama, assinada pelo Papa Gregório IX, em 1223. Definidos como encarnação de Satanás, gatos negros de olhos brilhantes e escondidos na escuridão foram mortos com a bênção do pontífice.
A campanha da Shell que incentiva troca de pontos de abastecimento por milhas com o conceito “Você não depende da sorte”, inclui imagens de gatos pretos entre as situações associadas ao azar.
Para ONGs de Defesa dos Animais, porém, afirmam que tal preconceito coloca a vida dos bichanos em real perigo. Eles são sempre os últimos a serem adotados, quando conseguem um lar. Ainda são sacrificados em datas como sextas-feiras 13 e Halloween (31 de outubro) em todo o mundo por um motivo torpe e irracional.
A Federação das Associações e Sociedades Protetoras dos Animais do Estado de São Paulo (Faos SP) enviou uma nota de repúdio lamentando a campanha da Shell.
Nas redes sociais, a Shell informou que em respeito às opiniões contrárias, retirou o filme do ar. Na mesma nota, explicou que não aceita qualquer tipo de maus tratos a animais e que sua campanha apenas foi baseada em crenças populares e símbolos associados à sorte e ao azar.

No comercial da Volkswagen de quatro anos atrás, um carro passa por diversos objetos considerados chamariz de boa sorte até que de repente cruza com um gatinho preto. Aí a frase conclui: “Não se pode ter sorte sempre”.
O comercial foi retirado do ar após forte apelo popular e a empresa publicou um esclarecimento explicando que sua atitude tinha sido tomada em respeito às manifestações sobre o tema. No documento, exalta os animais como inspiração para suas campanhas, lembrando o Cachorro-Peixe do Space Fox, o Tigre do CrossFox, o Elefante Korama, do Amarok e o Cachorro Pug do Jetta.
O Gato Preto surgiu como personagem e símbolo do azar na propaganda brasileira ainda um pouco antes, em 1998, numa campanha da DM9 que dizia: “Hoje é sexta-feira 13 e um gato preto acaba de cruzar o seu caminho. Melhor sair de casa com Itaú Seguros”.
Sem a força das redes sociais e com uma Internet engatinhando, sem trocadilho, o comercial cumpriu o “flight” programado.