Entrevista

“NÃO SERÁ RUIM, SÓ DIFERENTE”

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João Daniel: agir com rapidez

Diretor de cinema brasileiro mais premiado do mundo publicitário, João Daniel Tikhomiroff, explica como a Mixer se prepara para a retomada do negócio e a difícil recuperação de um segmento que já sofria problemas com o mercado e a Ancine antes de ser atingido pelos efeitos da pandemia da Covid-19.

Com 48 Leões do Festival de Cannes, a produtora, terceira mais premiada em nível global, estende seu trabalho atual também para o conteúdo, com uma série de projetos veiculados nas TVs aberta e por assinatura.

João Daniel é responsável direto por 41 desses Leões, a maioria deles conquistados quando o filme ainda era a principal estrela do maior evento mundial da publicidade. Entre suas obras, comerciais históricos como “Passeata”, de Staroup, “Mãe e Filha”, de Phebo, “Manada”, do Banco Bozano Simonsen e “Goleiro”, da Henkel.

Como ele diz nesta entrevista, o novo normal não será ruim, apenas diferente. Diz que a retomada deverá ser cuidadosa, com muita responsabilidade, sem colocar a saúde dos profissionais em risco.

 A produção foi um dos setores mais atingidos pela quarentena. Como a Mixer se adaptou à situação?

A produção já vinha sendo atingida por problemas do mercado publicitário e questões internas de Ancine, na área do Conteúdo. A Pandemia provocou uma crise sem precedentes ao setor. A Mixer buscou um equilíbrio em suas contas, evitando demissões, operando em home office e fazendo upgrades de internet e equipamentos para seguir atendendo seus clientes, inclusive sem qualquer atraso nas entregas de edições, finalizações, VFX. Assim ajudamos a garantir a saúde de nossos funcionários e colaboradores.

Foi possível realizar trabalhos publicitários durante a pandemia seguindo as regras de segurança?

Não. Apenas alguns poucos de forma totalmente remota ou apenas com edição e finalização. Preferimos aguardar a aprovação dos protocolos de saúde pelos governos estadual e municipal, o que ocorreu agora, para retomar as produções cumprindo as regras. Agora sim, estamos retomando aos poucos.

Para quem viveu a fase artesanal da produção, como foi se adaptar à era da computação gráfica?

A Mixer sempre esteve à frente na computação gráfica e efeitos visuais, desde quando vivi e trabalhei na Espanha e fiz acordo na época com a melhor produtora de efeitos visuais da Inglaterra, a Frame Store. Eu participava pessoalmente de todas as finalizações de nossos comerciais, e mesmo de cenários virtuais, o que já começava a ser praticado por lá, antes de chegar no Brasil. Assim, a Mixer se equipou e temos uma estrutura própria de efeitos visuais com uma equipe excelente de artistas gráficos e técnicos, além de poder utilizar com freqüência grandes parceiros e empresas parceiras, de VFX e animação, tanto para a publicidade quanto ao Conteúdo.

E a realização de conteúdo, foi totalmente paralisada?

Temos cinco salas de roteiristas funcionando virtualmente desde o inicio da Pandemia, desenvolvendo séries e longas, documentais e de ficção, de forma muito produtiva. Os resultados são positivos nessa área, e estamos até avaliando se essa forma de desenvolver conteúdo não veio pra ficar, no “Novo Normal”. Entregamos uma nova temporada da série de ficção “Escola de Gênios” de 26 episódios de 30 minutos cada, cujas gravações haviam terminado em dezembro, editando, sonorizando e finalizando virtualmente., Também uma outra série documental de 12 episódios, um longa (“Garota da Moto”) que terminamos a filmagem dia 3 de março, uma semana antes do início da pandemia, que foi editado virtualmente, feito a trilha musical, e agora na fase de VFX, sonorização, mixagem, e finalização, todos dentro do cronograma.

Que projetos cinematográficos estavam em andamento e tiveram que ser suspensos?

Alguns. Uma série doc-reality, outra série documental, e uma série grande de entretenimento. Previsão de retomar aos poucos, agora que foram liberados e aprovados os Protocolos de saúde no Governo do Estado e na Prefeitura. Outros foram adiados o inicio de produção, aguardando os estágios de liberação, respeitando a pandemia e os cuidados com a equipe e elenco.

Com a liberação das filmagens pela prefeitura de São Paulo, qual a previsão de retomada da Mixer?

Retomamos alguns comerciais, respeitando os estágios do protocolo e adicionando mais medidas de higiene, saúde e segurança na prevenção. Em Conteúdos, estamos retomando aos poucos, sempre respeitando os estágios de liberação. O mercado está represado, tanto na Publicidade como no Conteúdo. Os anunciantes precisam recuperar vendas e conquistar consumidores, os canais e plataformas precisam de conteúdos novos para não perder audiência. O público já está cansado de reprises. Os formatos de lives e de “home contents” estão entrando em fase de saturação por parte da audiência, que já não agüenta mais ver esse tipo de formatos. Assim, deveria ser urgente uma retomada de novas produções. Mas o problema é que a crise afetou a todos. E precisa de investimentos para novas produções. Nessa hora que veremos a diferença entre “os homens e os meninos”. Quem for muito conservador vai perder mercado muito rapidamente. Pelo esgotamento emocional, acredito que o publico será duro em suas escolhas. E quem não for rápido e preciso nas decisões, vai ficar pelo caminho.